🥊 Uma história fabulosa de BOXE !
Max Schemling e Joe Louis
Um alemão e outro americano.
Um branco e um negro.
Dois grandes campeões de pesos-pesados no Boxe que se defrontam em 1936 e em 1938, durante um período de guerra (WW2).
Ambos apoiados/usados politicamente de formas e em fases diferentes.
Do lado americano, Roosevelt apoia Max Schmeling no seu combate para o título contra Jack Sharkey (filho de imigrantes lituanos) em 1930. O eleitorado de descendência alemã era maior do que o eleitorado de descendência Lituana e Roosevelt corria para a Casa Branca.
Contudo em 1938 o mesmo Roosevelt, já presidente, apoia Joe Louis contra Schmeling, enfatizando a importância política da luta. Louis, sendo negro num período de segregação na sociedade americana, está também por esse ângulo sob brasas para não perder.
Schmeling, injustamente e sem fundamento, é «colado» ao partido nazi.
Do lado alemão, Hitler (já no poder) tenta utilizar sempre que possível o campeão alemão como bandeira Nazi.
Mas, do outro lado encontrou sempre o carácter de Schmeling, que soube navegar nessas águas perigosas, de forma a não comprometer os seus ideais, correndo mesmo risco de vida.
Um resumo dos factos:
– Recusa entrar para o partido nazi.
– Recusa abandonar o seu agente – Joe Jacobs – um judeu americano.
– Pede a Goebbels (o líder da propaganda nazi) que salve uma judia de deportação – esposa de um escultor alemão famoso – e consegue a sua salvação.
– Recusa um punhal das SA como condecoração pelos feitos da raça ariana.
– Na “Noite dos cristais”, em 1938, salva dois meninos judeus, filhos de um seu amigo, conseguindo levá-los em segurança para os EUA (um deles, Henry Miller, vem mais tarde, em apenas 1981, a tornar esta história pública e tornar-se um personagem importante nesta história).
– Em visitas aos EUA é fotografado com amigos judeus, coisa que cai muito mal no regime nazi e que desemboca em “castigo”: obrigam Max, aos 33 anos, a fazer a recruta e o curso de paraquedista e é depois enviado para a guerra – num salto de combate na Grécia, lesiona as costas (já danificadas pela luta de 1938 com Louis) e nunca mais pôde voltar a lutar.
Joe Louis, que é derrotado pela 1ª vez na carreira no combate de 1936 com Schmeling, ganha o 2º dois anos depois. Como ganha no 1º round de forma muito categórica, o seu combate é utilizado pela propaganda americana como uma motivação para o esforço da guerra.
Cumpre serviço militar e doa 2 cachets para os fundos de reforma da marinha e do exército. O IRS americano cai em cima dele obrigando-o a pagar juros e acusando-o de não declarar dinheiro. O seu serviço patriota é reconhecido dessa forma, coisa que destrói bastante Louis.
Louis vai degradando a sua vida económica e cai na bancarrota. Tal como muitos pugilistas na história, é obrigado a continuar lutar para ganhar dinheiro e termina a carreira tomando o 2º KO do seu currículo, frente a Rocky Marciano (1951). Dedica-se ao Wrestling profissional por uns tempos. E depois muda-se para Las Vegas, onde trabalha como porteiro VIP em casinos.
Vicia-se em cocaína e morre de ataque cardíaco em 1981, (falecendo a dever ao governo mais de 1 milhão de dólares). Max Schmeling, seu eterno amigo, envia através de Henry Miller (então milionário dos casinos) um envelope com avultada soma de dinheiro à viúva. O seu velório é realizado dentro de um ringue, no casino Caesars Palace.
Durante este período de dificuldades, Louis é ajudado financeiramente por Max, que então recupera da falência e do caos da Alemanha pós-guerra. Isto porquê um dos seus contactos do boxe nos EUA se torna presidente da Coca-Cola e sugere a Max ser um franchising. Schmeling torna-se milionário e a sua empresa ainda hoje é bastante forte na Alemanha.
Max Schmeling morre aos 99 anos, em 2005.
Joe Louis é considerado pela grande maioria como o maior pugilista de todos os tempos.
Um e outro reconheceram mutuamente que as suas lutas foram apenas Boxe e que nada de político ou de racial entrou nas suas disputas.
Eram grandes amigos.
O Boxe, a Nobre Arte, está recheada de histórias que mostram a capacidade de carácter, a força mental e o lado inter-pessoal dos seus intervenientes. Os valores morais aprendem-se em muitos lados na vida; na minha opinião, o Boxe não é superior a nada nesse aspecto, mas estou muito convencido que também não é inferior. Estou convencido que a actividade do Boxe trás consigo, desde que bem guiada, uma capacidade invulgar de melhoramento dos indivíduos.
Pedro Silva / Coach – Academia Skills