Tempo de Reacção – Visão Geral

Este artigo é um resumo e provocação aos artigos seguintes sobre Tempo de reacção. O meu ponto de partida é o combate, mas a potencialidade do tema vai mais além, como será claro nos textos, espero.

Definição

O Tempo de reacção é talvez a peça nuclear em tudo o que seja chamado de confronto! Porquê?

Porque reagir é decidir; é tomar uma decisão face a circunstâncias que estão sempre a mudar! É também, por isso mesmo, adaptação.

Quando falo em confronto, vejo-o fora da caixa: não apenas no confronto físico, numa competição ou num duelo, mas também num confronto de ideias, de argumentos, numa competição empresarial, entre grupos, equipas desportivas, ideologias …etc.

Ou seja, numa escala maior e ampla, o Tempo de reacção está lá, porque tudo isso é feito de pessoas e todas as pessoas possuem mais ou menos o mesmo equipamento neurobiológico. O que mudará e nos tornará diferentes, é a forma como cada um navega com o seu equipamento ao longo da vida e pela vida influenciado.

Em concreto, o tempo de reacção aparece em contexto de oposição. Repare bem: já implica, à partida que uma parte age e a outra reage. E, logo, implica que uma parte está primeiro e outra em segundo; que uma parte coloca uma coisa e a outra parte faz algo com essa coisa.

No caso de um confronto físico, o tempo que vai de “A a B” ou de “B a A” é muito reduzido; no caso de um debate de ideias, o tempo já é maior; no caso de competição empresarial, maior ainda; e assim, o tempo de reacção é variável em cada contexto de oposição, de dualidade; cada contexto exige um certo tempo, que se quer o mais útil possível.

Está a perceber? O Tempo de reacção é universal e aplica-se a muita coisa.

É vital nos conceitos de Estratégia e de Táctica.

Queremos que o Tempo de reacção seja rápido?

Sim, mas isso não quer dizer que haja logo acção. Às vezes, a reacção é “decidir esperar”. Essa pode ser a melhor decisão. Faço-me entender?

Compreensão  

Outra coisa é perceber como funciona.

Todos temos, talvez, uma capacidade automática de reagir. Somos assim! Somos seres interactivos e uns mais «reactivos» que outros. Mas, para realmente percebermos e sermos conscientes de “como”, “porquê” e “quando” reagimos, teremos que parar para pensar. Quem estiver mais habituado a posições em que tem de lidar com decisões estará mais por dentro do assunto (ou pelo menos mais habituado).

Por exemplo, o caso de quem pratica Boxe para competição:

É um ambiente em que o “treino para lutar” está normalmente presente, e em que o atleta tem a vantagem de ter um treinador e colegas para poder treinar ferramentas. Essas ferramentas permitem um melhor tempo de reacção – ou se quisermos, uma melhor decisão.

No exercício chamado sparring, o objectivo é treinar a tomada de decisão correcta, simulando uma luta a sério, sem, no entanto, o ser.

O sparring é um momento de aprendizagem como nenhum outro!

É o treino e aprendizagem do “jogo”; é uma discussão entre duas pessoas com luvas de boxe. A característica principal e rica do sparring é o desconhecimento do jogo do outro: como, onde e quando, são perguntas que obrigam ambos os atletas a decidir bem, o mais rápido e inteligente possível.

Os agentes de ensino, estarão lá no treino para corrigir as suas falhas, para indicar porque lhe é difícil decidir em tempo útil, para reflectir sobre as decisões tomadas e também para lhe mostrar as más-decisões, ainda que sejam rápidas – são auxiliares de decisão.

O Treino seja do que for, portanto, é uma forma de fazer com que uma pessoa perceba melhor as suas reacções / decisões num campo específico.

Outra forma, de ajudar a compreender, quer para quem pratica, quer para quem ensina, é o estudo de descobertas noutras áreas, mas com aplicação directa ao assunto. É o caso de propostas como o OODA Loop (Ciência militar/Psicologia), a Lei de Hicks-Hyman (Psicologia) ou ainda a relação espaço / tempo / ritmo (Física).

Aplicação

Voltando ao exemplo do Boxe.

No dia da luta a sério – o combate – o competidor encontrará outro igual e irá lutar com toda a sua pessoa – fará as suas tomadas de decisão. Mas… há uma grande diferença para o sparring: não conhece tão bem o seu adversário (ou seja, as acções do adversário) e a carga emocional e toda a resposta fisiológica inerente são muito mais intensas. Ou por impreparação, falta de experiência, medo, dor, raiva ou outras emoções, a tomada de decisão pode não ter sucesso de um lado e ter do outro.

Creio que o estudo e aplicação dos conceitos em torno do Tempo de reacção / decisão ajuda imenso o Treinador, o Líder, o Empresário, o Educador, …etc a ter mais capacidade de análise e diagnóstico, mais criatividade na formação e treino e, sobretudo, a perceber os limites de determinado contexto. Do lado do atleta, do colaborador, do interlocutor, …etc, a compreensão dos fenómenos presentes na actividade que desempenha ajuda a ele ser ainda melhor no que faz, pois consegue perceber o que precisa melhorar.

Treinar a capacidade de decidir, é treinar a capacidade de adaptação. Isso é um processo.

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Sobre o autor: Pedro Silva | Treinador | Psicólogo clínico / Psicoterapeuta / Formador

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